quinta-feira, 20 de julho de 2017

Pointer: O Volkswagen Mais Renegado

No post de hoje, falaremos um pouco sobre um dos maiores carros da VW que não tiveram uma grande aceitação do público comprador da marca, por questões de falhas no projeto, porque a Autolatina já estava com os dias contados e não poderiam produzir mais um carro derivado da plataforma do Escort MK5, denominado no Brasil de Projeto BE-6, que era composto pelo Logus também. O fato é que o Pointer era um médio de linhas limpas e fluidas, considerado pela matriz alemã como o VW mais bonito dos anos 1990, mas que durou somente de 1994 até 1996, portanto quase 3 anos de mercado.

O Pointer surgiu a partir do acordo de colaboração firmado entre a Volkswagen do Brasil S.A. e a Ford Brasil S.A., o que resultou a Autolatina, tanto no Brasil como na Argentina. Nesse acordo, as duas marcas se comprometeram a compartilhar motorizações e plataformas para seus futuros lançamentos (Verona/Apollo, Escort/Logus, Escort/Pointer, Santana/Versailles, Quantum/Royale).

O acordo foi firmado entre as duas marcas em 1987, e permaneceu até 1996, quando por razões de desentendimento entre as duas multinacionais, o mesmo foi encerrado. Desse acordo, surgiram diversos modelos gêmeos, entre eles a dupla Verona e Apollo, Santana e Versailles, Quantum e Royale, toda a linha Gol (exceto as versões GL, GLS, GTS e GTi) com a motorização CHT 1600, de origem Ford, Escort Ghia, XR3 e XR3 Conversível com motorização AP-1800, de origem Volkswagen, bem como Del Rey e Belina Del Rey com motorização AP-1800, também de origem Volkswagen. Nesse acordo, ficou determinado que 51 % das ações eram de propriedade da Volkswagen e 49% restantes pertenciam à Ford.

No começo da década de 1990, mais precisamente 1992, após ter lançado o Apollo em 1990, a Volkswagen não estava tendo bons resultados de vendas com o seu novo carro médio, que se situava entre o Voyage e o Santana. Apesar de o Apollo ser, na sua essência, um Verona, ele era um carro bem diferente daquele que lhe derivou. O interior do Apollo era totalmente diferente, com painel, volante, peças de acabamento, forrações de portas e outros itens que seguiam o padrão de acabamento VW. Outros pontos de diferenciação entre os dois carros se encontrava no câmbio, utilizado o mesmo do XR3 no Apollo e, no Verona, o mesmo do Escort Ghia, e também no acerto de suspensão utilizado no Apollo, mais voltado para a esportividade do que para o conforto.

Ao perceber que o Apollo não estava satisfazendo-a em vendas, a fábrica de origem alemã tratou logo de desenvolver dois novos modelos médios: os projetos BE-6, que previam um modelo três volumes com carroceria de duas portas (mais tarde conhecido por Logus) e outro modelo hatchback, disponível com carroceria de 5 portas, quase um notchback (mais tarde conhecido por Pointer). Curioso notar é que ambos os novos modelos médios utilizavam a mesma plataforma da linha Escort MK5, já lançada em 1993. Coube ao então design Luiz Alberto Veiga a criação do novo modelo, tomando por base o layout dianteiro do Logus, carro que estava para ser lançado junto com o Novo Escort da Ford.

O Pointer, então, foi apresentado à imprensa especializada da época em 1993 como o "Volkswagen mais bonito já feito", disponível em três pacotes de acabamento (CLi, GLi e GTi) e duas opções de motorização, todos utilizando o já consagrado e conhecido AP-1800 e AP-2000i. A versão CLi estava disponível apenas com a motorização AP-1800 com carburador eletrônico, desenvolvendo 99 CV de potência e 15,6 kgfm de torque máximos. Já a versão GLi poderia vir tanto com a motorização AP-1800 como com a motorização AP-2000, ambos com carburador eletrônico, desenvolvendo, respectivamente, 99 CV de potência e 15,6 kgfm de torque máximos (GLi 1.8) e 112 CV de potência e 17,5 kgfm de torque máximos (GLi 2.0). A versão GTi era equipada somente com a motorização AP-2000i com injeção eletrônica de combustível Bosch LE Jetronic analógica, utilizada nas primeiras séries do carro. Este motor fornecia 116 CV de potência e 17,7 kgfm de torque máximos. Posteriormente, foram utilizadas novas injeções eletrônicas de combustível, já digitais, da marca FIC.

Como as primeiras unidades apresentadas à imprensa do carro eram pré séries, isto é, eram unidades de testes, o carro apresentou muitos defeitos e problemas como, por exemplo, a relação da 5ª marcha do câmbio era muito curta, fazendo com que o carro atingisse menor velocidade máxima e demorasse mais para atingir os 100 km/h, partindo da imobilidade, além de aumentar e muito o nível de ruídos em comparação com os seus principais concorrentes da época. Também não eram equipadas com vidros elétricos traseiros

A Volkswagen, ao saber desses defeitos, corrigiu-os durante o ano inteiro de 1993, e apresentou novamente o carro em 1994, agora com todos os defeitos e problemas corrigidos. O primeiro ano de vendas do carro foi um grande sucesso, já que o mesmo possuía belas linhas, motores relativamente potentes e com bom torque em baixas rotações para a época, além de um padrão de acabamento condizente com a proposta e com o segmento do carro.

Seus concorrentes na época eram os Fiat Tipo 1.6 i.e., 2.0 i.e. e Sedicivalvole 2.0 16V i.e., os Escort Ghia 2.0i e XR3 2.0i, os Kadett SL/E e GSi 2.0 M.P.F.I., além da concorrência interna com os Golf GL 1.8, GLX 2.0 e GTI 2.0, modelos estes lançados em 1994, mesmo ano de lançamento do Pointer, e com o Gol GTi 2.0 que, apesar de ser menor em tamanho, era mais cultuado pelos entusiastas da época. 

Os principais itens de série oferecidos na versão GTi 2.0 eram: retrovisores com acionamento elétrico, faróis de neblina e de milha, antena no teto, regulagem de distância do volante, ar quente, bancos Recaro, regulagens de altura e lombar no banco do motorista, trava elétrica, vidros elétricos, toca-fitas FIC com equalizador, rodas de liga leve 14", vidros verdes, limpador e lavador traseiros, relógio digital, conta-giros, ar condicionado, console, porta-copos, banco traseiro rebatível 1/3 e 2/3, regulagem de altura dos cintos de segurança, desembaçador traseiro e faróis halógenos Como opcionais, eram oferecidos para essa versão o CD Player, o teto solar com acionamento manual por meio de manivela e bancos revestidos em couro. A versão CLi contava com itens de série como retrovisores com controle interno, ventilação forçada, porta-copos, banco traseiro rebatível em 1/3 e 2/3, regulagem de altura dos cintos de segurança e faróis halógenos. A versão GLi contava com todos os itens de série já trazidos pela CLi mais vidros verdes, limpador e lavador traseiros, rádio toca-fitas, relógio digital, conta-giros, console e desembaçador traseiro. 

De repente, por volta de 1995, foi anunciado o fim do acordo de cooperação firmado entre a Ford Brasil S.A. e a Volkswagen do Brasil S.A., por razões de desentendimento entre as duas fabricantes. Com o fim do acordo, tanto os modelos da Ford baseados em modelos da Volkswagen e produzidos por esta em sua fábrica (Santana/Versailles e Quantum/Royale) como os modelos da Volkswagen baseados em modelos da Ford e produzidos na fábrica desta (Logus/Pointer) se encontraram em uma situação de incerteza de produção, pois não se sabia se seriam descontinuados (o que acabou ocorrendo 1 ano depois) ou ganhariam novas gerações totalmente novas.

Tanto o Logus como o Pointer acabaram se tornando modelos "micados" com o fim de sua paralisação da produção em 1996. O Pointer, em particular, pois foi um modelo de poucas unidades produzidas (aproximadamente 29.000 carros de 1994 até 1996) e que nem a Volkswagen, muito menos a Ford estavam interessadas em continuar a sua produção. Foi um carro extremamente bem desenhado pelo Departamento de Engenharia e Design da Volkswagen do Brasil, mas que no final acabou não vingando, pois além do fim do acordo entre Ford e VW, existia também a concorrência interna com o Golf MK3, produto lançado no mercado brasileiro na mesma categoria do Pointer, além de possuir o status de carro importado.

Um dos grandes defeitos dos Logus e Pointer (este mais comum a ambos), é com relação à sua frágil suspensão dianteira, pois conforme a utilização dos carros em nossas precárias ruas e avenidas das grandes cidades, as buchas da suspensão acabavam por se romper e arrebentar com a suspensão dianteira dos carros. Outro defeito também compartilhado por ambos e pelo Escort também, era a má qualidade da solda na caixa de fusíveis dos carros, o que acabava por ocasionar problemas elétricos diverso.

Atualmente, encontrar os Logus e Pointer em bom estado é uma missão um tanto quanto complicada, pois os raros remanescentes desses carros encontram-se muito mal tratados, em desmanches ou até mesmo abandonados. Vale ressaltar que, ambos não sofrem da falta de peças mecânicas, mas sim da falta de peças de acabamento internas e de latarias, pois após o fim de sua produção, nenhuma das marcas ofereceram peças para os carros.

Alguns dados técnicos do primeiro modelo testado pela revista 4 Rodas em Dezembro de 1993, antes da VW alongar a relação da 5ª marcha:

- Velocidade Máxima: 182 km/h.
- Aceleração de 0 a 100 km/h: 11,28 s.
- Retomada de 40 a 80 km/h: 11,59 s.
- Retomada de 40 a 100 km/h: 17,11 s.
- Retomada de 40 a 120 km/h: 23, 28 s.
- Retomada de 40 a 140 km/h: 30,38 s.
- Aceleração Lateral: 0,87 g.
- Consumo cidade/estrada: 8,1 km/l na cidade e 12 km/l na estrada.
- Nível de Ruído: 72,2 decibéis.

Aqui os dados técnicos do modelo após o alongamento da relação da 5ª marcha, testado pela revista 4 Rodas em Julho de 1994:

- Velocidade Máxima: 192,3 km/h.
- Aceleração de 0 a 100 km/h: 10,73 s.
- Retomada de 40 a 80 km/h: 13 s.
- Retomada de 40 a 100 km/h: 18,85 s.
- Retomada de 40 a 120 km/h: 25,27 s.
- Retomada de 40 a 140 km/h: 32, 90 s.
- Aceleração Lateral: 0,87 g.
- Consumo Médio: 10 km/l.
- Nível de Ruído: 70,5 decibéis.

Finalizo o post deixando várias imagens do Pointer, que foi um carro muito bonito e mais uma opção interessante aos outros carros médios disponíveis para o consumidor na época e que, pelos motivos mencionados anteriormente, não foi bem sucedido.



Abraços





































Um comentário:

  1. O Pointer Gl 2.0 ao receber a injeção FIC ficou com a mesma potência do Gti?

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