terça-feira, 26 de março de 2019

A Primeira Fase da Audi no Brasil - Importação VW do Brasil

Nesse post de hoje, irei comentar e esclarecer um pouco um tema até então desconhecido da maioria dos entusiastas pelas marcas do grupo Volkswagen: a primeira fase da Audi no Brasil, representada e importada pela Volkswagen do Brasil S.A.

Para o Salão Internacional do Automóvel de São Paulo de 1990, realizado no Parque de Exposições do Anhembi, SP, a Volkswagen do Brasil apresentou um nova marca ao consumidor brasileiro: a Audi, por meio do modelo 100 Quattro, medindo assim a aceitação do público. A euforia do público presente foi expressiva ao ver o novo automóvel, aprovando de imediato o mesmo. Passou o Salão, o carro voltou para a Alemanha e, dois anos depois, a Volkswagen do Brasil decidiu importar direto da Alemanha, de uma de suas marcas na qual era proprietária, um carro de tamanho médio-grande, espaçoso, extremamente confortável e de uma segurança nunca antes vista em terra brasilis e que pudesse competir e disputar o mercado de automóveis de alto luxo por aqui. Na época, esse segmento era disputado por BMW Série 3 (E36), Mercedes-Benz 300 CE-24 (W124), Toyota Camry XLE, Nissan Máxima, Infiniti Q45, Ford Taurus, entre outros. Lembrando que, nessa época, a Volkswagen ainda pertencia a Autolatina Brasil S.A., holding que uniu ela e a Ford do Brasil S.A. em 1987.

De início, decidiram em trazer a marca Audi, até então uma marca totalmente desconhecida dos brasileiros. O modelo que escolheram foi o Audi 100 Quattro (C4), equipado sempre com a motorização 2.8 litros, 6 cilindros em V de 12 válvulas, dianteiro, longitudinal, com comandos de válvulas nos cabeçotes, admissão por dutos variáveis e alimentação por injeção eletrônica multipoint sequencial, que rendia potência máxima de 174 cv a 5.500 rpm, bem como um torque máximo de 24,81 kgfm a 3.000 rpm. Um dos diferenciais do carro em relação à concorrência era justamente a tração integral Quattro, que distribui a potência e o torque de forma igualitária a todas as rodas, fazendo com que os dois eixos tracionem simultaneamente sob qualquer circunstância.

De dimensões, o carro media 4,79 metros de comprimento, por 1,77 metros de largura e 1,43 metros de altura, com distância entre-eixos de 2,69 metros, 1,52 de bitolas dianteira e traseira. Pesava 1.515 kg, o tanque tinha capacidade de 80 litros, e o porta malas cabia apenas 382 litros. 

Chegou ao Brasil em dezembro de 1992, custando de U$$ 90.000 a U$$ 100.000 (com todos os opcionais disponíveis). Era U$$ 20.000 mais caro do que o BMW Série 3 325i (E36), também equipado com motor de 6 cilindros, diferindo apenas na tração traseira e na disposição do motor no cofre, e U$$ 44.000 mais barato do que a Mercedes-Benz 300 CE-24 (W124), também 6 cilindros em linha e tração traseira (como o BMW). Diante de tantos concorrentes de maior prestígio entre os consumidores brasileiros da categoria e custando muito mais do que alguns deles, não oferecendo nada além da tração integral e do conforto a bordo, o carro acabou não vendendo o que se esperava.

Os itens de série do carro eram: vidros verdes, rodas de liga leve 15", pintura metálica, revestimento dos bancos em couro, regulagem elétrica dos faróis, faróis de neblina, vidros elétricos, travas elétricas, retrovisores elétricos, toca-fitas Audi Gamma, controlador de velocidade, computador de bordo, check control, climatizador de ar, freios ABS, controle remoto de abertura das portas, regulagens de altura e telescópica do volante. 

Os opcionais se resumiam a 5, que eram: CD player, teto solar elétrico, bancos com regulagem elétrica e com memória, alarme ultra-sônico e cambio automático de 4 marchas.

Testado pela Revista Quatro Rodas em dezembro de 1992, o carro impressionou e muito com relação ao conforto, ganhando assim a nota máxima atribuída a um carro nesse quesito pela revista. Segundo o repórter Eduardo Pincigher, "o revestimento em couro branco dos bancos e portas exibe acabamento cuidadoso, enquanto detalhes como a aplicação de mogueira no painel e nas portas acentuam o requinte". Outro ponto positivo do carro, exaltado pelo repórter a época, foi com relação a estabilidade exemplar, graças a tração integral Quattro. No teste de aceleração lateral, o carro atingiu 0,93 g, número excelente tendo em vista os dos concorrentes. Vejamos: "O maior trunfo do Audi 100 é seu sobrenome: Quattro. Registrado pela Audi, ele significa tração integral, com dois eixos tracionando simultaneamente sob qualquer circunstância. As vantagens se traduzem em maior eficiência em terrenos de pouca aderência, estabilidade impecável - obteve 0,93 g na prova de aceleração lateral - e segurança adicional em pisos molhados."

Por outro lado, a adição de um eixo cardã e do diferencial Torsen aumentaram a quantidade de peças se movendo. Logo, o motor 2.8 V6 se mostrou apenas competente para carregar o peso total do carro, ficando sobrecarregado. Se superou as expectativas no teste com relação a estabilidade e conforto a bordo, o carro decepcionou nas provas de velocidade máxima, chegando a 194 km/h, de aceleração de 0 a 100 km/h, atingido em 13,43 s e nas de consumo, com 8,9 km/l de média com gasolina.

Quanto a manutenção, a Volkswagen do Brasil qualificou algumas de suas concessionárias para cuidar especialmente do novo carro, fazendo as revisões periódicas e reparos de emergência.

Por não ter nenhum prestígio, custar mais caro que a maioria dos concorrentes e por ser uma marca desconhecida para os brasileiros, a marca alemã instalada no km 23,5 da Via Anchieta, em São Bernardo do Campo, decidiu paralisar as importações dos carros logo no primeiro semestre de 1993. A partir do segundo semestre de 1993, um tal de Ayrton Senna da Silva assinou um contrato de representação e importação da marca ao País, iniciando-se em 1994. Mas isso ficará para um post futuro, pois a matéria é longa e interessante.

Deixarei imagens do carro, bem como fichas técnicas, press-releases e também o teste da Revista Quatro Rodas de dezembro de 1992, realizado com uma unidade na cor Branco Pérola com o interior branco, e o link de outro teste feito pela MotorWeek, com uma unidade Avant na cor preto com o interior preto.



Abraços