sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Dacon: Uma Concessionária de Renome Nacional e Símbolo de Luxo, Status e Alto Desempenho no Brasil (Parte 2)

Nessa segunda parte do post sobre a extinta concessionária VW Dacon, localizada na Avenida Cidade Jardim, 414, em São Paulo, darei continuidade a história da marca e aos lançamentos de novos modelos a partir de 1987, como o Nick, até o encerramento das suas atividades em 1996, com o último modelo produzido pela marca, o PAG Chubby. Em 2001, devido a consequências de agravamento de sua saúde, Paulo de Aguiar Goulart veio a falecer, encerrando um ciclo.

Em 1987, com a chegada do Plano Cruzado, proposto pelo governo de José Sarney, a expectativa do governo era de melhorar a economia brasileira, bastante frágil já naquela época, reduzir os juros e controlar a galopante inflação, que chegava a absurdos 218,52% ao ano. Apesar disso, o governo não obteve grande sucesso na criação desse novo Plano Econômico, fazendo com que a inflação cada vez mais aumentasse e agravasse ainda mais a situação econômica do País.

Nesse mesmo, Paulo Goulart e Anísio Campos, por meio da nova empresa do empresário dono da Dacon (a PAG), retornaram a estudar um novo carro urbano, nos mesmos parâmetros do Mini Dacon 828: pequeno, ágil, de manutenção fácil e barata, que oferecesse certo conforto e luxo aos ocupantes. Elaboraram então protótipos utilizando a mesma base da picape pequena Saveiro, da VW, onde aproveitavam-se basicamente a cabine, com todos os acabamentos internos incluindo bancos, forros de portas e o painel, e retiravam-se a dianteira e a caçamba da Saveiro, substituindo por peças confeccionadas em fibra de vidro e desenhadas por Anísio Campos.

Findo os processos de criação, fabricação e testes dos protótipos, o novo carro foi batizado com o nome de Nick e apresentado no final de 1987, seguindo a mesma proposta: um carro urbano confortável e luxuoso, com mecânica fácil e barata de se manter e relativamente ágil. Assim como os protótipos, o novo carro era produzido com base na Saveiro, tendo removidas apenas a dianteira e a caçamba, substituídas por peças confeccionadas em fibra de vidro. O balanço dianteiro era encurtado até o limite do radiador, já o entre-eixos era encurtado ao máximo, bem como o balanço traseiro da carroceria. Com isso, o novo carro media somente 3,08 m e oferecia espaço e conforto razoável para dois ocupantes. Para economizar os custos de produção, o pára-brisa dianteiro e o vidro traseiro da Saveiro foram mantidos, com o espaço acima do bagageiro substituído por uma peça confeccionada também em fibra de vidro, que lembrava uma gaiola, sem os vidros. O acesso ao diminuto porta-malas dava-se por meio de uma tampa vertical, ladeada pelas lanternas traseiras originais da VW Quantum. Quanto a motorização a PAG-Dacon oferecia duas opções: o mesmo EA-827 AP 600 do Gol, com 90 cv de potência e 14,5 kgfm de torque, e o EA-827 AP 800 do Santana, este mais potente, entregando 99 cv de potência e 15,6 kgfm de torque.

Vendeu razoavelmente bem, para um carro fora de série, feito sob encomenda e de baixa produção mensal. Para 1990, o projeto do Nick foi totalmente revisto, não utilizando mais a picape Saveiro como base, mas agora o Gol GTI, lançado em 1988 pela VW e que estava fazendo um enorme sucesso entre os endinheirados da época. O estilo da traseira também foi revisto, sendo eliminada a exótica estrutura do porta-malas, substituída por uma verdadeira extensão da cabine, com janelas laterais e pára-brisa traseiro. O restante da carroceria permaneceu igual ao modelo produzido desde 1987, com o limitado espaço interno e do porta-malas, mas ainda assim condizente com a proposta do modelo. No mesmo ano, a PAG, visando oferecer um modelo Nick com maior espaço interno e do porta-malas, passou a produzir um novo modelo tendo por base o Voyage, oferecendo maior porta-malas e a possibilidade de se transportar quatro ocupantes com razoável conforto. Havia como opção de motorização o mesmo EA-827 AP 2000 do Santana e da Quantum, que oferecia 110 cv de potência e 17,3 kgfm de torque máximos. Esse modelo do Nick, para dois ocupantes, foi vendido até 1990 e foram vendidas 46 unidades.

Nesse mesmo ano, o governo federal liberou as importações de automóveis, proibidas desde 1976, por meio de um decreto-lei n° 8.032/90, o que acabou por inundar as ruas brasileiras de veículos de origem estrangeira. Os primeiros importados foram os carros da Lada, montadora russa, os modelos da alemã BMW, a Lumina, da GM, as Alfa Romeo 164, alguns modelos da também alemã Mercedes-Benz, entre outros. Ocorre que, na época, os endinheirados começaram a perceber que os modelos nacionais estavam muito defasados tecnologicamente diante dos importados, passando a cada vez mais preferi-los ao invés dos fora de série nacionais, que custavam quase o mesmo preço de um automóvel importado, e não oferecer o mesmo status. Com isso, muitas empresas que produziam os fora de série nacionais, sendo a própria PAG-Dacon uma delas, acabaram por não conseguirem manter os mesmos números de vendas da época pré liberação de importados, vindo a pedir falência por não conseguir arcar com os prejuízos e a falta de interessados em comprar seus carros. Marcas como Puma, Miura, Santa Matilde, Lafer, e muitas outras encerraram suas produções nessa década.

Para 1990, a PAG-Dacon apresentou um novo carro, também desenhado por Anísio Campos, e que era uma evolução do Nick. Esse novo carro da PAG-Dacon acabou por ser batizado de Chubby e veio a ser o último modelo produzido pela Dacon. O Chubby era um modelo de quatro lugares com uma carroceria muito semelhante à do Nick com a mesma configuração, mas possuía algumas diferenças em relação à este. Para começar a listar as diferenças, a grade dianteira do Chubby possuía um desenho diferenciado, com aberturas para ventilação por toda a sua extensão, com o logo da PAG-Dacon na parte superior da mesma, era um pouco mais baixo do que o Nick, entre outros detalhes. Como todos os outros carros produzidos pela PAG-Dacon, o Chubby também utilizava a carroceria dos modelos VW, dessa vez a do Santana GLS de 2 portas, com as peças de estilo próprias do modelo confeccionadas em fibra de vidro. Como itens de série, o carro já oferecia teto solar elétrico, ar condicionado, direção hidráulica, vidros elétricos, retrovisores elétricos, travas elétricas, rodas BBS aro 14" em liga-leve, faróis de milha, fechamento automático das portas, entre outros mimos. Como opcional, poderia vir com transmissão automática de três velocidades, originária do Santana. O porta-malas ainda tinha a sua abertura por meio de uma tampa vertical entre as lanternas traseiras, muito pequena, e adotava o estepe temporário, que ocupava menor espaço no mesmo. O motor era o bom e velho conhecido VW EA-827 AP 2000i, utilizado em Santana EX e Gol GTi, que entregava potência de 125 cv e torque de 18,5 kgfm máximos. Também poderia vir com mesmo motor EA-827 AP 2000, o mesmo de Santana e Quantum da época, mas sem a opção de injeção eletrônica de combustível, desenvolvendo 110 cv de potência e 17,3 kgfm de torque máximos.

Como os custos do projeto não eram nada baratos, o Chubby completo, com o único opcional do câmbio automático, acabava custando na época Cr$ 6,5 milhões de cruzeiros, quando que um Santana EX 2.0i com todos os opcionais saía por Cr$ 4.162.339,00, ou aproximadamente U$$ 22.000,00. Além disso, o pequeno carro da PAG-Dacon ainda sofria com a forte concorrência dos importados que estavam entrando no País, pois os importados da mesma categoria do Chubby custavam mais, mas traziam freios com ABS e duplo airbag, além de trazerem mais tecnologia embarcada. Desse modo, a vida comercial do novo automóvel da PAG-Dacon acabou por ser pouco duradoura, e a fábrica acabou encerrando a sua produção 1 ano depois.

A partir de 1991, a empresa decide interromper a fabricação de carros e passou a se concentrar apenas na venda dos carros que a mesma representava, com exceção da BMW e da Citroën (representadas pelo Grupo Regino e pela XM Importadora de Veículos, respectivamente). Assim, após produzir 130 Nick's desde 1987, ano de lançamento do carro, a marca PAG é extinta. Apesar de não mais fabricar carros, a Dacon continuou sendo uma concessionária autorizada da VW e representante oficial da Porsche aqui no Brasil até 1996, quando por questões financeiras, pediu concordata e faliu, encerrando as suas atividades logo naquele ano.

Em 2001, falecia Paulo de Aguiar Goulart, devido a um infarto fulminante do miocárdio, deixando um legado no automobilismo nacional e também a lembrança de que, um dia, teve uma concessionária VW que oferecia modelos luxuosos e esportivos, e modificava VW's com extremo bom gosto. O prédio da extinta concessionária ainda permanece no mesmo lugar, na Avenida Cidade Jardim, 414, mas agora lá funciona um Centro de Diagnósticos do Hospital HCor.

Para finalizar, deixarei imagens dos Nick e do Chubby, bem como o vídeo de 20/09/1993, do Programa Shop Tour, Noite dos Importados, do Galebe. Deixarei também testes de  revistas especializadas da época, testando ambos os carros. Deixei também algumas fotos da fábrica da PAG em Santana do Parnaíba, em SP, datadas de Outubro de 1982, bem como uma foto de fabricação do Nick. Além do vídeo, deixarei também anúncios de 828, Passat Dacon 821, Nick e Chubby pelos sites de compra e venda de carros. Abaixo o link do programa, destacando o Porsche 911 Carrera Coupe, o Passat e a Passat Variant VR6 (carroceria B3), o Corrado VR6 e o primeiro lote de Golf MK3 importado do Canadá que chegou ao Brasil, em 1993, representado por um modelo GL básico.


*créditos das imagens: José Carlos Gasparetto, Óbvio.Ind e Acervo Anísio Campos.

Abraços