domingo, 15 de outubro de 2017

Audi 100 de Primeira Geração no Brasil: Uma História Um Tanto Quanto Curiosa e Nebulosa

Hoje irei falar um pouco sobre uma unidade de um carro raríssimo de se encontrar nas ruas européias e que acabou vindo parar no Brasil de uma forma não muito bem esclarecida, já que as fontes sobre ele são quase impossíveis de se achar em sites automotivos brasileiros.

O ano é 1967, no Brasil ocorria uma ditadura militar sanguinária, e o Presidente da República era um general, o senhor Arthur da Costa e Silva, o segundo presidente-general que tivemos no período de 1964-1985. Nesse mesmo ano, a Vemag S.A. - Veículos e Máquinas Agrícolas, situada à Rua Vemag, 1086, Ipiranga, SP, estava sendo adquirida pela Volkswagen do Brasil S.A., situada à Via Anchieta, km 23,5, São Bernardo do Campo, SP, pois a fabricante dos modelos DKW aqui no País já se encontrava com uma situação financeira bastante delicada e os carros produzidos por ela já se encontravam com uma configuração mecânica muito ultrapassada para aquele final dos anos 1960. Num primeiro momento, a empresa alemã afirmou que não iria interromper a fabricação dos carros com a marca DKW e que iria continuar aperfeiçoando-lhes, enquanto as vendas dessem retorno financeiro. Só que essa afirmação foi um golpe dado para que os então proprietários de DKW não ficassem com um carro micado. Por volta de Agosto de 1967, os carros da DKW tiveram a sua fabricação interrompida e a então fábrica desses carros passou a ser a chamada Fábrica 2 da Volkswagen, que incluiria ali o Departamento de Design e de Desenvolvimento, além de uma pista de testes.

Por volta do começo do ano de 1971, jornalistas do Jornal O Globo descobriram e fotografaram uma unidade de um novo automóvel de três volumes pertencente a uma marca nunca antes vista em território brasileiro, rodando nos arredores da fábrica 2 da VW e pelo interior de SP: era o Audi 100 de primeira geração. À época, esses mesmos jornalistas constataram que o automóvel visto era de propriedade da Volkswagen do Brasil S.A., e o endereço se encontrava na Rua Vemag, 1.086, Ipiranga,SP, atual Fábrica 2.

Este carro era um automóvel luxuoso para os padrões brasileiros do final da década de 1960, com o emprego de materiais de alta qualidade, como por exemplo, casimira na forração dos bancos e do carpete, bancos traseiros muito confortáveis e anatômicos, entre outros itens considerados de luxo aquela época. Contava com câmbio manual de 4 marchas com alavanca seletora no assoalho, bancos dianteiros separados, ar quente/frio, luzes de leitura para os passageiros do banco traseiro, entre outros itens.

Utilizava motorizações de 1,8 e 1,9 litro de arrefecimento líquido, 4 cilindros em linha, tração dianteira, sendo que a primeira entregava entre 79 e 99 HP de potência dependendo da versão e a segunda opção de motorização entregava 113 HP na versão cupê. A unidade fotografada pelos jornalistas à época se tratava de um modelo 100 LS, equipado com o motor de 1,8 litro e 90 HP de potência.

À época, cogitou-se muito a fabricação brasileira deste modelo nas instalações da antiga fábrica da Vemag, pois todos os ferramentais de produção dos DKW estavam ociosos e sem utilidade nenhuma, bem como as instalações fabris. Caso tivesse se concretizado a fabricação do modelo aqui no Brasil, este concorreria com os Dodge Dart, Chevrolet Opala, FNM 2150, Aero-Willys, Ford Galaxie, na categoria de carros de luxo, sendo um grande rival para os Opala e para os Dodge Dart, pois estes eram carros médios em seus países de origem mas, aqui no Brasil, acabaram se tornando modelos mais caros, luxuosos e mais refinados do que seus respectivos modelos de origem (Opel Rekord C e Dodge Dart USA). Já com relação aos FNM 2150 e Aero-Willys, a disputa nas vendas seria bem mais fácil, pois estes já eram modelos de tecnologias já muito ultrapassadas, já que eram baseados em modelos do final da década de 1950, o Aero-Willys baseado no carro americano de mesmo nome da metade dos anos 1950 e o FNM 2150, baseado na Alfa Romeo 2000 Berlina italiana do final da década de 1950,e que já demonstravam sinais de que não iriam aguentar mais a forte concorrência de Dart, Opala e Galaxie no mercado de automóveis de luxo brasileiro. Também foi cogitado à época que as unidades que aqui rodavam estavam em testes de rodagem para o mercado sul-africano, bem como as que pertenciam à diretores da fábrica de São Bernardo do Campo, que era o caso da unidade branca de propriedade do presidente Werner Schmidt.

Por motivos até hoje não descobertos e que, provavelmente, serão bem difíceis de se descobrir, considerando a escassez de material disponível sobre esse carro em específico na web, a Volkswagen acabou por desistir da fabricação do Audi 100 no Brasil e encerrou todos os testes de rodagem já feitos com o carro que se encontrava em posse deles. Uma situação curiosa aconteceu com relação ao descarte dessa unidade: geralmente, as montadoras costumam desmanchar os protótipos dos carros quando desistem de sua fabricação ou até mesmo mandam de volta os carros para o seu país de origem, via exportação, mas no caso desse Audi 100 em específico não foi muito bem isso que ocorreu. Por algum motivo, esse carro acabou sendo vendido para algum funcionário da própria Volkswagen assim que terminaram os testes, e o mesmo utilizou o carro durante um bom tempo.

Até que, eu mesmo há uns 10 anos atrás, por meio de uma reportagem da revista Quatro Rodas Clássicos, encontrei uma unidade de um Audi 100 C1 (primeira geração) em um desmanche de 35.000 metros quadrados de terreno, localizado em Pirituba, SP, pintado na cor verde. Conversando com o dono desse desmanche, o mesmo me disse que o carro chegou com todas as peças de acabamento (frisos, lanternas, grade, faróis, emblemas) tudo instaladas no carro por volta do ano 2000, e que comprou o mesmo em um leilão da Prefeitura de SP. Do dia em que eu encontrei esse carro no desmanche, já com bastante ferrugem na carroceria, sem os bancos originais, somente com o bloco do motor (por ser de alumínio, bandidos invadiram o terreno do desmanche e levaram todas as peças do motor), com o teto amassado, já sem a grade dianteira, pois foi vendida pra alguém colocar em algum Passat nacional de primeira geração, sem faróis e muito menos lanternas traseiras originais, com o assoalho todo podre e carcomido pela ferrugem, descobri que o dono do desmanche vende o que sobrou dessa unidade, pela bagatela de R$ 800,00. Como não tenho dinheiro e por não compensar mais salvar essa unidade, não o comprei. Para aqueles que quiserem se aventurar e tiverem cacife suficiente, posso passar o endereço do desmanche sem problema algum.

Vou aproveitar também e anexar a matéria do jornal O Globo da época, bem como as fotos feitas pelos jornalistas do carro inteiro e, de quando eu encontrei essa unidade no desmanche. No post, deixarei uma matéria da Revista Quatro Rodas de 1979 realizada com a segunda geração do modelo abordado no post.



Abraços