quarta-feira, 10 de abril de 2019

O Nascimento De Um Novo Esportivo VW: O Corrado

Trataremos nessa matéria de hoje sobre mais um modelo Volkswagen raríssimo no Brasil, importado via importação independente da Dacon, concessionária Porsche e Volkswagen da época, muito famosa por suas transformações de Passat nos anos. O carro é o Corrado, feito pela Volkswagen de 1988 até 1995.

Nessa primeira parte da matéria irei discorrer um pouco sobre a história do carro, desde seu lançamento até o final de sua produção. Na segunda parte, irei discorrer sobre sua chegada ao Brasil e sobre o número de unidades existentes no País.

Desenvolver esportivos compactos baseados em plataformas de carros produzidos em grande volume sempre foi uma estratégia bem-sucedida para a Volkswagen A.G., vide o Karmann-Ghia, feito sobre a plataforma do Fusca nas décadas de 50 e 60, e o Scirocco, este feito sobre a plataforma do Golf MK1 e MK2 em suas duas gerações, respectivamente.  Quando a segunda geração do Scirocco começou a apresentar sinais de desgaste e envelhecimento, no final da década de 80, a Volkswagen A.G. iniciou os trabalhos e estudos para um substituto do bem sucedido esportivo. 

Para a fabricação do monobloco do novo esportivo, a empresa alemã buscou a colaboração da Karmann Coachworks, encarroçadora centenária cediada na cidade alemã de Ösnabruck, que era parceira da Volkswagen A.G. na conversão dos Fusca em Cabriolet desde o final da década de 40, mantendo um trabalho executado também na produção dos Karmann-Ghia, Golf Cabriolet e VW-Porsche 914. 

O nome Corrado, utilizado pela Volkswagen A.G. para denominar o novo esportivo, é derivado do verbo correr, em espanhol. Conforme ditava a moda o design dos carros nos anos 80, o novo esportivo precisaria ter as linhas modernas e atraentes, seguindo o padrão retilíneo dos carros de então. Lançado no Salão Internacional do Automóvel de Frankfurt, em Outubro de 1988, o design do novo carro guardava algumas semelhanças com os Passat de terceira geração (B3), apresentado em Março daquele mesmo ano, no que tange as lanternas traseiras quadradas e nos pára-choque dianteiro e traseiro, mas o hatchback de três portas - que alguns o consideram um cupê - possuía um estilo próprio e que dava ênfase a sua esportividade.

Acima de tudo, o desenho do novo carro era robusto, encorpado, transmitia a solidez característica e possuía um excelente Cx de 0,32 para a época. Um detalhe de design e de aerodinâmica presente no carro, que chamava muito a atenção das pessoas, era o seu aerofólio traseiro, que se erguia automaticamente quando se atingia a velocidade 70 km/h, permanecendo discreto e embutido na terceira porta em velocidades abaixo disso. Não era um mero artifício estilístico, muito menos estético do carro, pois quando elevado, reduzia em 64% a sustentação da traseira.

Baseado no Golf de segunda geração (MK2), o Corrado era pouca coisa maior do que o carro que o originou, com comprimento de 4,05 metros e largura de 1,67 metros. Em compensação era mais baixo do que o hatch originário, com 1,32 metro de altura,  e mantinha exatamente a mesma distância entre eixos deste, com 2,47 metros. Seu peso, na versão mais potente (VR6), era de 1.115 kg. Internamente, o carro possuía quatro lugares, se associando facilmente ao do Passat, com um desenho funcional tipicamente alemão. Com relação aos itens de série, dependia muito da versão e do mercado a que o carro fosse destinado, possuindo computador de bordo, controlador de velocidade, ar condicionado, volante e bancos revestidos em couro, teto solar elétrico, bancos com aquecimento, entre outros.

Na Alemanha, inicialmente,  o carro era vendido em duas versões de motorização. A primeira era equipada com o motor EA-827 1.8 de 16 válvulas, duplo comando, com injeção eletrônica multipoint. Esta primeira versão denominou-se Corrado 16V, desenvolvia a potência máxima de 136 cv e o torque máximo de 17, 1 kgfm. Já a segunda versão, denominada Corrado G-60, equipada com o motor EA-827 de 1,8 litro, 8 válvulas, monocomando e injeção eletrônica multipoint, vinha com o compressor volumétrico em forma de "G", o que lhe rendia 160 cv de potência máxima e 22, 9 kgfm de torque máximo. Fornecia potência e torque desde as baixas rotações, conquistado muitos consumidores. Capaz de acelerar de 0-100 km/h em 7,5 s, o carro atingia os 225 km/h de velocidade máxima. 

Utilizado alguns componentes mecânicos do Passat B3, como o eixo traseiro, por exemplo, a mecânica do Corrado recorria a receitas simples e já comprovadas: motor instalado transversalmente, tração dianteira, câmbio manual de 5 marchas, freios a discos (ventilados à frente) com sistema antitravamento opcional (ABS), suspensão dianteira McPherson e traseira por eixo de torção. Para acompanhar, rodas de 15" calçadas com pneus 185/55 ou 195/50.

Em um teste realizado pela revista inglesa Car, entre o Corrado, o Audi 80 Coupe Quattro e o Porsche 944, o desempenho do VW impressionou os jornalistas, com a velocidade mais alta e aceleração de 0-96 km/h feita em 8 s, somente 0,1 s atrás do mais rápido do grupo, o Porsche 944. Vejamos o que disse o repórter:

"Este quatro cilindros com jeito de turbina é um motor inesperado para um carro esporte, pois fornece plenas respostas em baixas para médias rotações antes de começar a perder o fôlego, acima de 4.500 rpm. No Corrado, você sempre tem potência suficiente - mesmo em 2.000 rpm em quinta marcha - mas o preço que se paga por isso é um ruído constante e onipresente".

Quanto a o comportamento dinâmico do carro, frente aos seus concorrentes do teste, mais um elogio vindo desse mesmo jornalista. Vejamos:

" Em curvas fechadas, o Porsche 944 não é tão ágil quanto o Corrado. Sob potência, o VW eventualmente subesterça, mas reage obediente ao alívio do acelerador. Tem mais aderência e tração do que o Porsche, direção com melhores respostas e uma estabilidade direcional impecável". 

Ao final do teste, o embate para disputar o primeiro lugar ocorreu entre o VW e o Porsche, no qual esse jornalista também deu seu parecer. Vejamos:

"No fim, o 944 vem em segundo, apesar do melhorado motor de 2,7 litros e o nome de prestígio mundial. Ele tem um câmbio muito melhor que o do Corrado e painel mais agradável mas, pelo custo adicional, não oferece mais desempenho. E, no departamento de chassis, a VW está a frente".

Na Europa, o carro possuía os seguintes concorrentes: Audi 80 Coupé Quattro, Porsche 944, Opel Calibra, Ford Probe, Toyota MR-2 e Honda Prelude.

As vendas para o mercado norte americano se iniciaram em 1990, seguidas um ano depois (1991) com o lançamento de um câmbio automático de quatro marchas, já que este mercado exigia tal equipamento. 

Para 1992, a linha Corrado trazia uma importante adição à gama de motores já oferecidos, tanto na Alemanha quanto nos outros países nos quais o carro era exportado: o motor VR6, basicamente um motor 6 cilindros com "V" estreito (15 graus) entre as bancadas de cilindros, tornando-se o motor ideal para uma instalação transversal, pois o mesmo possuía uma largura reduzida em comparação aos V6 tradicionais. A unidade de 2,8 litros e duas válvulas por cilindro oferecia uma potência máxima de 174 cv e torque máximo de 24,5 kgfm (85% deste torque estavam presentes na faixa entre 2.000 e 6.000 rpm). Um motor fabuloso!

Esses números traduziam-se em velocidade máxima de 225 km/h e na aceleração 0-100 km/h feita em 7,1 s, portanto 0,4 s mais rápido do que o próprio Corrado G-60, até então o modelo da gama mais rápido. Acompanhados da nova motorização, chegavam controle eletrônico de tração (TCS) e rodas de fabricação alemã da marca BBS, em aro 15", calçadas com pneus 205/50. 

Para o mercado norte americano, essa nova versão equipada com o motor VR6 denominou-se SLC, que significava Sports Luxury Coupe, ou cupê de luxo esportivo. Como curiosidade, nesse mercado, a nova versão aposentou a antiga G-60. Em teste realizado pela Revista Road & Track, tradicional publicação norte americana, o Corrado SLC impressionou novamente, tendo sido comparado a esportivos de porte maior que ele, como o Nissan 300 ZX e o BMW Série 3 325i Coupe. Vejamos o veredicto o jornalista:

" O VR6 lança o Corrado no nível de desempenho do Nissan 300 ZX e do BMW 325i Coupe. Não é só 2 segundos mais rápido de 0-96 km/h do que o G-60, mas também supera o tempo do Nissan e do BMW. Apesar do ajuste da suspensão para melhorar o conforto e o ganho de peso de 50 kg, o novo Corrado tem um comportamento quase tão preciso quanto o do G-60. Pode ser atirado com confiança nas curvas".

Nesse mesmo ano, a revista inglesa Car comparou-o com os rivais Ford Escort RS Cosworth e Opel Calibra Turbo, saindo-se bem apesar de ser o menos potente e o mais lento em aceleração dos três carros. Vejamos o parecer do jornalista:

"O Corrado é um carro notavelmente integrado. As respostas do motor são sempre bem dispostas, enquanto no Calibra e (sobretudo) no Escort há momentos em que os motores estão fora da ação dos turbos. O VR6 empurra tão bem a baixas rotações que você pode pular marchas na cidade. Ele é mais suave, mas na faixa média de giros o Calibra supera o Corrado".

Acrescentou a revista: " A direção do VW também é bem ajustada. Ele não tem a aderência do Ford, mas se comporta com a mesma finesse. O esterçamento por torque está praticamente ausente, apesar dos 174 cv com tração dianteira. Sua cabine é confortável e conveniente". 

Ao final do confronto, a revista considerou o Corrado "uma absoluta joia de carro, amigável, fácil de levar, precisa quando deve, mas doce e graciosa quando sob enorme pressão". O Escort, porém, venceu o comparativo, por suas vantagens como carro esportivo.

Nesse mesmo ano (1992), em um comparativo feito pela revista norte americana Car And Driver, o carro terminou o mesmo empatado em quinto lugar com o Ford Probe GT, à frente de concorrentes como o Toyota Celica GT-S e do Isuzu Impulse, mas atrás de outros concorrentes como o Nissan 240 SX SE, Acura Integra GS-R,  Honda Prelude Si e Eagle Talon ESi, este último sendo o vencedor do comparativo. A revista o definiu como "melhor que a soma de suas partes; bonito, rápido e estável, com seu próprio e único tempero. Falta-lhe o polimento dos carros que o venceram e nosso modelo de U$$ 22 mil parece fraco em relação custo-benefício. Mas sua personalidade alemã é forte, e isso pode ser o suficiente para convencer os fiéis".

Para o ano-modelo 1993, chegou um interior completamente rejuvenescido, com novos quadro de instrumentos e comandos de ventilação, além também da opção de toca-CDs com armazenador instalado no porta-malas. O teto solar elétrico já vinha de série e o tanque de combustível fora ampliado. Nesse ano, o motor 16V aumentava de tamanho, passando a ser o EA-827 de 2,0 litros, 16 válvulas, duplo comando no cabeçote, rendendo os mesmo 136 cv de potência máxima, diferindo-o do anterior apenas no maior torque (18,3 kgfm de torque máximo). Em 1995, a revista inglesa Top Gear comparava o VR6 a Fiat Coupé, Nissan 200 SX e Honda Prelude, concluindo que " O Corrado sente-se ultrapassado, mas ainda sai à frente do Honda. É bem mais divertido de dirigir e você pode realmente levar mais dois adultos atrás". Perdeu, porém, para os mais modernos Fiat Coupé e Nissan 200 SX.

O último modelo a ser exportado para os Estados Unidos foi o de ano-modelo 1994, mas a Europa continuou a vê-lo nas concessionárias VW até o ano seguinte (1995), quando foi lançada a série especial Storm VR6, limitada a 500 unidades. Oferecia bancos revestidos em couro, teto solar elétrico, sistema de áudio premium e o motor VR6 com 190 cv de potência e 25 kgfm de torque máximo. Finalmente, nesse mesmo ano, a Karmann e a VW encerraram a fabricação do modelo, não retornando mais ao portfólio da marca alemã e não deixando sucessores no seguimento. Não a toa, o Top Gear incluiu o VW Corrado na lista dos 10 carros a serem dirigidos antes de morrer.

Nesses sete anos de produção, saíram da linha de produção da Karmann, em Ösnabruck, aproximadamente 97.521 Corrado.


Dessa forma, encerramos a primeira parte da matéria, aonde contamos toda a trajetória do modelo desde seu lançamento até o encerramento de sua fabricação. Deixarei alguns catálogos que tenho guardados, propagandas, fotos do carro de press releases, entre outros materiais ilustradores.







Abraços



Teste - VW Corrado VR6 1993.

VW Corrado Introductie Video.

Volkswagen Corrado G60 G-Lader Technical Talk.

1990 Volkswagen Corrado "Beetle Drop" Commercial.

VW Corrado Commercial.

Vídeo de Lançamento - VW Corrado 1989.

OLD TOP GEAR, B.M.W., ALFA ROMEO \u0026 VOLVO, CORGI MUSEUM, LAST EVER VW CORRADO, 1995.

Volkswagen Corrado G60 Dealer Promotion Video.

Telemotor - Test Honda CRX x Porsche 944 x VW Corrado.

Telemotor - Test Nissan 200SX x VW Corrado x Opel Calibra.

Old Top Gear - VW Corrado VR6.

MotorWeek | Retro Review: 1992 Volkswagen Corrado SLC VR6.

VW Corrado (Typ 53i) - Lançamento.








































































































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