quarta-feira, 3 de abril de 2019

A Segunda Fase da Audi no Brasil: Importação e Representação By Senna Import

Trataremos no post de hoje sobre a chamada segunda fase da Audi no Brasil, desta vez representada por ninguém menos do que Ayrton Senna da Silva, tricampeão mundial de Fórmula 1 (1988, 1990 e 1991), por meio de sua própria importadora, a Senna Import.

No primeiro artigo, tratamos da mal sucedida estratégia adotada pela VW do Brasil ao trazer a Audi, em 1993. Pensando nisso e já conhecendo os carros da marca, Ayrton Senna decidiu investir na importação dos carros da marca alemã, pois tinha certeza de seu grande sucesso comercial, apesar de saber também que nunca foi uma marca conhecida da maioria dos brasileiros.

Para tanto, ele e seu assessor de imprensa, Charles Marzanasco Filho, viajaram ate Ingolstadt - Alemanha, cidade sede da Audi A.G., em 18 de Novembro de 1993, para assinar um contrato de representação, importação e comercialização dos veículos Audi no Brasil. Durante várias reuniões realizadas pela dupla com o alto escalão da Audi A.G., enfrentando resistência por parte do Presidente da marca, que acreditava que a nova empreitada não iria dar certo também (a experiência com a importação VW do Brasil trouxe certa insegurança), Senna finalmente conseguiu a assinatura do Presidente da Audi A.G. no contrato firmado entre a marca alemã e a empresa de Senna, denominada Senna Import Comércio e Importação Ltda. 

Os carros escolhidos por Ayrton Senna a serem vendidos pela sua nova empresa foram os seguintes: Audi 80 Sedan e 80 Avant, equipados com motores EA-827 de 2,0 litros, de 4 cilindros, 8 válvulas, com injeção eletrônica multipoint, rendendo 115 cv de potência e 17,5 kgfm de torque máximos, e 2,6 litros, de 6 cilindros em V, 12 válvulas, com injeção eletrônica multipoint , este rendendo 150 cv de potência e 23 kgfm de torque máximos, ambas as motorizações podendo ter transmissão manual de 5 marchas ou automática de 4 marchas, o Audi 100 Sedan e Avant, equipados somente com o motor de 2,8 litros, 6 cilindros em V, com 12 válvulas, rendendo 174 cv de potência e 26 kgfm de torque máximos, sempre equipados com transmissão automática de 4 marchas, os esportivos de luxo Audi S4 Sedan e Avant, podendo ser equipados com os motores 2,2 litros de 5 cilindros, turbo, 20 válvulas, desenvolvido em parceria com a Porsche A.G., e o 4,2 litros, de 8 cilindros em V, 32 válvulas, com injeção eletrônica multipoint, sendo que o primeiro rendia 220 cv de potência e 31 kgfm de torque máximos e o segundo rendendo 300 cv de potência e 40 kgfm de torque máximos, equipados com a tração integral Quattro, os Audi 80 Cabriolet, equipado somente com o motor de 2,6 litros, 6 cilindros em V, 12 válvulas, rendendo 174 cv de potência e 26 kgfm de torque máximos, os S2 Coupe e Avant, ambos equipados com o motor de 2,2 litros, 5 cilindros em linha, 20 válvulas, turbo, com injeção eletrônica de combustível multipoint, desenvolvido em parceria com a Porsche A.G.,  rendendo 220 cv de potência e 31 kgfm de torque máximos, e tração integral Quattro e a RS2 Avant, equipada com o motor de 2,2 litros, 5 cilindros em linha, 20 válvulas, turbo, com injeção eletrônica de combustível multipoint, desenvolvido em parceria com a Porsche A.G.,  rendendo 220 cv de potência e 31 kgfm de torque máximos, e tração integral Quattro. O pacote de itens de série seria o mais completo possível, ofertando todos os opcionais disponíveis, vendendo o carro sem nenhum opcional senão as pinturas metálicas ou perolizadas, a gosto do cliente.

O assessor de imprensa de Senna voltou ao Brasil após ter auxiliado o tricampeão a fechar o novo contrato com a Audi A.G. e iniciou, a mando do próprio Ayrton Senna os preparativos para a Festa de Lançamento da marca no País, e Senna ficou na Europa se preparando para iniciar a Temporada de 1994 da Fórmula 1. No início de 1994, antes do primeiro GP da temporada, Senna assinou contrato para correr representando a equipe na qual tanto sonhou em pilotar um Fórmula 1: a poderosa Equipe Williams, pertencente a Frank Williams.

Iniciou-se a Temporada de 1994 da Fórmula 1 pelo GP do Japão, onde Senna não venceu pois a Williams tinha perdido todos os recursos eletrônicos inovadores que a tornaram a "equipe de F-1 a ser batida por todas as outras" como, por exemplo, a suspensão ativa, os controles de tração e de estabilidade, e que fizeram vencedora nas Temporadas de 1992 e 1993, com Alain Prost e Nigel Mansell. O carro de Senna tornou-se um carro muito arisco, extremamente difícil de se pilotar e muito desafiador. Paralelamente a isso, os preparativos para a Festa de Lançamento da marca no Brasil já estavam praticamente prontos no começo de Março de 1994, e a data da festa foi marcada para os dias 29 e 30 de Março de 1994. No dia 29 de Março de 1994 seria realizada a festa e no dia 30, Ayrton Senna reservou o Autódromo José Carlos Pacce, localizado no bairro paulistano de Interlagos, local do GP Brasil de Fórmula 1, para que o mesmo andasse com os carros Audi junto com jornalistas pelo Autódromo, para que estes sentissem o feeling dos carros, podendo inclusive testá-los no mesmo evento.

O local da festa escolhido por Senna e seus assessores foi o Hangar da Varig, situado no Aeroporto de Congonhas, na cidade de São Paulo. Ocorreu no dia 29 de Março daquele ano e contou com a presença de pessoas ilustres da sociedade, como o próprio Ayrton Senna e sua então namorada, Adriane Galisteu. A festa de lançamento teve como mestre de cerimônias ninguém menos do que Jô Soares, que apresentou a marca e os carros aos convidados.

Vale ressaltar que a Festa de Lançamento das marcas Audi e Senna Import ocorreu no mesmo dia que ocorreu o GP Brasil de Fórmula 1, no qual Senna rodou com sua Williams FW-16 na curva anterior a Reta dos Boxes e não conseguiu vencer novamente o Grande Prêmio. Após esse episódio, Senna chegou ao evento de lançamento da Audi dirigindo sua Audi S4 Avant 4.2 V8 Quattro (C4), de cor prata e placas BSS-8855.

No dia 30 de Março de 1994, portanto um dia após o Grande Prêmio do Brasil e da Festa de Lançamento da Audi, Senna retornou ao Autódromo José Carlos Pacce, desta vez para apresentar os carros aos jornalistas automotivos mais respeitados da época, e também para que estes testassem os carros num "Impressões ao Dirigir". Em Interlagos, Senna dirigiu, ao lado de jornalistas da Revista Quatro Rodas, um Audi S4 Sedan (C4) de cor cinza, equipado com o motor de 2,2 litros, 5 cilindros em linha, 20 válvulas, turbo, com injeção eletrônica de combustível multipoint, e com tração integral Quattro. Quando se aproximou exatamente do ponto da curva anterior a Reta dos Boxes no qual rodou com sua Williams FW-16, Senna repetiu exatamente a mesma situação, forçando o carro a rodar também. Ocorre que, por causa da tração integral Quattro, o carro permaneceu na trajetória da curva, sem ao menos dar indícios de que iria rodar. 

Desta forma, Senna provou a máxima estabilidade dos veículos Audi aos jornalistas, que já ficaram surpreendidos com a tecnologia embarcada e também com o luxo e o conforto dos carros internamente.

Após esses fatos, Senna continuou se preparando cada vez mais para ganhar alguma corrida no Campeonato de Fórmula 1 de 1994, bem como para vencer um carro arisco, brutal e sem nenhuma estabilidade direcional, que era seu Williams FW-16. A corrida escolhida por ele para vencer foi o Grande Prêmio de San Marino, realizado no Autódromo Enzo e Dino Ferrari, localizado em Ímola - Itália.

Ocorre que no final de semana que correspondeu a realização, o clima entre os pilotos estava muito tenso, pois Rubens Barrichello, na sexta-feira de treinos para o GP, acabou voando com a sua Jordan na barreira de pneus, chocando-se contra ela. Senna foi imediatamente procurar saber a situação médica com o médico Sid Watkins, que obteve a informação de que o brasileiro havia apenas quebrado o nariz e ficado um pouco tonto. 

Senna sabia que algo estava errado com a segurança da pista e dos demais pilotos das outras equipes, tanto que convocou uma reunião reservada a pilotos de F-1 concorrentes seus, para decidir e discutir novas estratégias e medidas de segurança para serem adotadas pela FIA logo após o GP de San Marino.

No sábado, aparentemente um dia de treino para a corrida normal, ocorreu mais um outro acidente automobilístico, na Curva Villeneuve, dessa vez vitimando fatalmente o austríaco Roland Ratzenberg, que se chocou de lado contra a mureta da curva e passou reto na pista, que acabou morrendo horas depois no Hospital Maggiore, de Bolonha - Itália. Senna, ao saber da notícia da morte de seu companheiro de profissão, ficou extremamente chocado e entristecido com a situação, além de estar extremamente preocupado com o que poderia haver no dia seguinte.

No domingo, dia da corrida, Senna ficou apoiado sobre o aerofólio traseiro de seu Williams FW-16 profundamente concentrado e pensativo, com os olhos fixos para o seu carro, antes da largada, dentro do box da Williams. Dentro de seu carro, haviam duas bandeiras: uma bandeira da Áustria, para homenagear o seu companheiro de profissão, Roland Ratzenberg, morto um dia antes, e a tradicional bandeira brasileira, para caso vencesse a corrida. Dirigiu-se ao grid de largada, colocando sua balaclava e capacete, e mesmo assim, continuou muito pensativo, preocupado e concentrado, numa cena nuca antes vista por ninguém. Dada a largada, dois pilotos chocaram-se, sendo socorridos pelos Pace Cars Opel Vectra 4x4 e Ferrari 348 TS. Senna largou em primeiro lugar, na pole position, e logo atrás, em segundo lugar, vinha o alemão Michael Schumacher, que venceu os três primeiros GP's da temporada, representando a equipe Benetton. Quando deu-se a 7ª volta, Senna perdeu o controle de sua Williams FW-16 e chocou-se a 300 km/h contra o muro de proteção na curva Tamburello, e o braço dianteiro direito da suspensão dianteira de seu carro serviu como uma ponta de uma lança, perfurando o capacete do piloto, seu crânio e se alojando em seu cérebro. Senna ficou desacordado por alguns minutos, esperando o socorro médico. O dr. Sid Watkins tentou reanimá-lo na própria pista, sem sucesso, e então o enviou de helicóptero para o Hospital Maggiore, de Bolonha - Itália.

Após várias tentativas de reanimação e salvamento pelos médicos do hospital, Senna não resistiu aos ferimentos gravíssimos sofridos pelo impacto do braço dianteiro direito da suspensão dianteira direita de seu carro e veio a falecer alguns dias depois. A família do piloto decidiu transportá-lo da Itália ao Brasil, para fazerem o velório na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, e seu enterro no Cemitério do Morumbi.

Quem assumiu o controle total da Senna Import foi seu irmão, Leonardo Senna da Silva, e sua irmã, Viviane Senna da Silva assumiu o controle do Instituto Ayrton Senna, ONG criada pelo tricampeão para ajudar na educação de crianças e adolescentes carentes.

Para encerrar e ilustrar o post, deixarei algumas fotos da Festa de Lançamento da Audi no Brasil, a reportagem do Uol Carros feita com o Sr. Charles Marzanasco Filho, o teste realizado por Ayrton Senna para a Revista Quatro Rodas em Interlagos, utilizando um Audi S4 Sedan 2.2 Turbo 20V Quattro (C4), press-photos dos carros, alguns catálogos da linha Audi e dois teste feitos com a Audi RS2 Avant pela Revista Quatro Rodas.

*créditos: Revista Quatro Rodas, Charles Marzanasco Filho, FlatOut, Juliano Barata, Acelerados e Uol Carros.


Ayrton Senna Chegando na Festa de Lançamento da Audi - Março de 1994

Audi S2 Coupé da Motorfort no FlatOut Midnight - Ep. 3

Encontro de Audi RS2 - Tão Épico Que Até o Presidente da Audi Brasil Foi

Rubens Barrichello Testa o Audi S4 Avant 4.2 V8 Quattro de Ayrton Senna - Acelerados

Ayrton Senna Dirige o Audi S4 Sedan 2.2 Turbo 20V Quattro (C4) em Interlagos

Matéria Uol Carros - Charles Marzanasco Filho



Abraços
















































































































































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