domingo, 17 de dezembro de 2017

Tempo Matador: O Utilitário Concorrente da Kombi

No post de hoje, falaremos um pouco sobre um utilitário produzido pela Tempo Werk GmbH, empresa alemã com sede na cidade de Hamburgo, Alemanha, e que produzia utilitários utilizando a confiável e robusta mecânica Volkswagen.

A Tempo começou a sua fabricação de utilitários bem antes de a Volkswagen lançar a Transporter T1, mais conhecida no Brasil por Kombi. Era Novembro de 1949 quando a empresa lançou uma pick-up denominada Tempo Matador, que apesar de ser um utilitário muito similar em proposta e utilizar a mesma mecânica da VW, era muito diferente em sua concepção. A fábrica de Wolfsburg autorizava a produção desse utilitário, cedendo o conjunto motor-câmbio, mas não o vendia em suas concessionárias autorizadas.

O novo modelo poderia ser oferecido em duas versões: a pick-up, de cabine simples, e a furgão, esta mais destinada ao transporte de cargas perecíveis e aos serviços de correios. O furgão ainda tinha a opção de vir com o teto normal, baixo, ou então um teto elevado. Ambos os modelos possuíam duas portas dianteiras de abertura do tipo "suicida", e o seu tanque de combustível situava-se logo na dianteira do veículo, abaixo do pára-brisa Split Window, ou bipartido. No interior, por ser um veículo destinado exclusivamente ao trabalho, não havia a preocupação com luxos e requintes, onde o motorista e o passageiro iam sentados em cima do eixo dianteiro, posição semelhante à da futura concorrente da VW. O painel era composto somente pelo velocímetro, com escala até 120 km/h e algumas luzes-espia. A tração, ao contrário da adotada na maioria dos utilitários da época e também na concorrente da VW, era dianteira, bem como a localização do conjunto motor-câmbio.

O motor adotado era o mesmo utilizado no Fusca e, posteriormente, na Kombi. Trata-se da unidade 1.131 cc, boxer, 4 cilindros, refrigerada a ar, produzindo 25 cv de potência e 6,5 kgfm de torque máximos, e a caixa de câmbio era a tradicional ZF alemã de 4 marchas não sincronizadas.

Diferentemente da Kombi, o utilitário da Tempo não utilizava a estrutura monobloco, e sim uma estrutura mais antiga, de carroceria e chassi separados. O chassi era composto por duas vigas de seção circular unidas nas extremidades. As suspensões utilizavam feixes de molas semi-elíticas transversais e duas molas helicoidais em cada lado. Os freios eram a tambor na frente e atrás, e as rodas de aço tinham 16". Devido a sua distribuição de peso, podia-se rodar com três rodas, que o utilitário se mantinha nivelado, sem carga na caçamba, é claro. Sua capacidade de carga limitava-se a 1.000 kg, ou uma 1 tonelada.

O utilitário chegou a ser exportado para a Austrália, entre 1950 e 1952, com o volante do lado direito, e também algumas unidades chegaram ao Brasil, nesse mesmo período. Algumas unidades existentes no País foram destinadas aos comércios das grandes cidades brasileiras, bem como à alguns pequenos agricultores e pessoas que precisavam de um carro robusto, de mecânica fácil e barata, leve e, principalmente, que levasse 1 tonelada de carga.

Apesar do grande sucesso inicial, o utilitário disponível com a tradicional mecânica VW refrigerada a ar acabou tendo a sua produção limitada à 1.362 unidades até Maio de 1952. Comparada à própria Kombi e também ao DKW F-89, outro utilitário alemão concorrente do utilitário da VW, esse número é irrisório. Isso ocorreu porque a fabricante de Wolfsburg não possuía mais o interesse de fornecer o conjunto motor-câmbio para um utilitário concorrente daquele que ela produzia, obrigando a Tempo a encontrar uma solução.

A primeira solução veio da empresa JLO, que cedeu seu motor tri cilíndrico de 672 cc e 26 cv de potência. Com esse novo conjunto mecânico, veio também uma reestilização da carroceria e nova denominação, passando a se chamar de Tempo 1000, em alusão a sua capacidade de carga. Por ter muitos problemas de qualidade, a empresa se viu diante de alterar novamente o conjunto mecânico do utilitário.

Encontrou a solução nos motores da Heinkel, que eram um pouco mais confiáveis do que os da JLO, mas não tanto quanto os da VW. Em Setembro de 1952, a marca criava a versão Matador 1400, equipada com o motor Heinkel de 1.092 cc, de 4 cilindros em linha, desenvolvendo 34 cv de potência máxima e podendo carregar até 1.400 kg de carga.

Essa variação do utilitário foi produzida até 1955, quando a Tempo Werk GmbH foi vendida à também alemã Hanomag. Com a troca de proprietário e também nova injeção financeira, possibilitou o desenvolvimento de uma nova carroceria para o veículo, muito mais moderna, com nova área envidraçada, pára-brisas inteiriço e portas de abertura normal, aposentando o estilo "suicida" do modelo anterior. O tanque de combustível finalmente foi alocado em uma posição mais segura, não mais na dianteira do utilitário. Apesar de todas essas modificações, o utilitário se parecia muito mais com o utilitário produzido pela VW do que antes, e também mantinha o tradicional motor Heinkel de 1.092 cc e 34 cv de potência do modelo 1952, mantido em linha até 1956.

Para o ano-modelo 1957, o utilitário ganhou novo conjunto motor-câmbio, oriundo do Austin A50 inglês, com 4 cilindros em linha e 48 cv de potência máxima. O desempenho com esse novo motor melhorou e muito a desenvoltura do novo utilitário, aumentando a sua capacidade de carga para 1.500 kg no ano seguinte. O Matador foi produzido nessas configurações até 1963, quando ganhou o modelo E, com estilo mais atual e agradável. Nesse ano, o motor inglês oriundo do Austin A50 foi ampliado para 1.622 cc, com 54 cv de potência e surgiu também a versão movida a diesel, que adotava um motor de 1.797 cc e 50 cv de potência. Até o ano-modelo 1966 foram fabricadas 47.362 unidades, talvez a maior produção do modelo desde que foi lançado, em 1949.

Apesar do nome Matador ter sido não mais adotado em 1966, a carreira comercial do veículo não foi interrompida. Em 1969, a Hanomag foi vendida à Mercedes-Benz, que passou a adotar o modelo com um motor diesel de 55 cv de potência máxima, e todos os utilitários ganharam nova denominação: Mercedes-Benz L 206 D e L 306 D, conforme a sua respectiva capacidade de carga, podendo ser de 1 ou 2 toneladas. Seriam produzidos até 1978.

Dessa forma, encerro o post de hoje, que explicou sucintamente a origem desse utilitário que, no início, utilizava o mesmo conjunto motriz da Kombi e do Fusca e que teve alguns exemplares exportados para o Brasil. Deixarei o catálogo de época, bem como fotos e matérias deste utilitário.



Abraços





































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