No post de hoje, tratarei de esclarecer mais um protótipo desenvolvido pelo Departamento de Engenharia da VW do Brasil, o Voyage Tecno I, apresentado em 1983 na Feira do Carro a Álcool, em São Paulo.
Corria o ano de 1983 no Brasil, período ainda marcado pelo governo militar, incentivos a modelos movidos à álcool, por meio do Proálcool, programa do governo que dava incentivos fiscais às montadoras que possuíssem carros movidos ao combustível vegetal, e também tempos da reserva de mercado de tecnologia, que acabou enriquecendo muitos empresários e atrasando o Brasil tecnologicamente. Por volta do segundo semestre de 1983, foi decidida a realização da Feira do Carro a Álcool, evento esse a ser realizado no Parque de Exposições do Anhembi, em São Paulo, a fim de que a indústria automobilística brasileira apresentasse as novidades de seu portfólio.
A Volkswagen, no ano anterior, havia acabado de lançar por aqui um três volumes baseado em seu mais recente automóvel, o Gol. Esse sedan de três volumes veio a se chamar Voyage, em alusão ao espaço do porta malas ser maior em relação ao do Gol e também ao propósito do novo carro, que era ser um carro para a família. Para essa Feira, então, a fábrica encarregou o seu Departamento de Engenharia e Protótipos a desenvolverem um carro para exibir na Feira suas mais recentes tecnologias, tomando por base um Voyage GLS de 4 portas, originalmente com motorização de 1,5 litro oriunda do Passat.
As primeiras modificações com relação ao projeto original do Voyage concentrou-se no motor, este um EA-827 com duplo comando de válvulas no cabeçote, 16 válvulas, com injeção de combustível mecânica Bosch K-Jetronic, com 1,8 litro de capacidade cúbica, rendendo 139 cv de potência e 17,13 mkgf de torque máximos, totalmente desenvolvido pela Oettinger. A partir dessa modificação, foram alterados também o sistema de freios, adotando discos nas quatro rodas, sendo que na dianteira eram ventilados, e com adição do sistema ABS. Outra grande modificação ocorreu na caixa de marchas, que teve a primeira e a segunda marchas encurtadas, dando maior agilidade, e adicionaram também uma quinta marcha.
Esse motor de 1,8 litro e 16 válvulas era de origem alemã, muito utilizado em Scirocco, Golf GTI e Audi 80 e 100 daquela época, tornando a sua utilização em um VW nacional um grande chamariz e também uma grande novidade para um público que não via novidade automobilística desde a proibição de automóveis importados, em 1976. Foi a primeira vez que o público brasileiro viu um motor multiválvulas no País.
Na estética, a fábrica adotou rodas de liga leve Pirelli P-Slot aro 14", já utilizadas nos Golf GTI alemães da época, novo conjunto de faróis, grade e lanternas dianteiros, maiores e mais envolventes (posteriormente adotados na linha BX para 1987), pintura da carroceria feita em dois tons (Cinza e Prata), pára-choques dianteiro e traseiro envolventes, saias aerodinâmicas laterais, lanternas traseiras fumês, entre outros detalhes estéticos.
Internamente, a fábrica adicionou itens tecnológicos que ela acreditava que se tornariam comuns nos automóveis num período de 10 anos, além também de um capricho maior nos acabamentos. Entre esses itens, estavam o painel de instrumentos completamente digital, computador de bordo (que indicava autonomia, tempo de viagem, velocidade média, horas e consumo médio, este último sendo calculado a cada 100 km, bancos Recaro revestidos em couro e com regulagem elétrica do assento e do encosto com memorizadores, piloto automático, entre outros itens.
Após o encerramento da Feira, o carro foi levado até a fábrica da VW na Via Anchieta e, por ser um protótipo, acabou sendo destruído, como é a determinação nesses casos, restando apenas fotos do modelo no estande da marca no evento, bem como uma propaganda veiculada na imprensa à época. Desta forma, encerro este post de hoje, deixado a única foto do carro ainda no estande da marca na Feira do Carro a Álcool, bem como a única propaganda veiculada sobre ele à época.
Abraços